Os mesmos princípios usados na administração de uma companhia podem ser usados para gerenciar as contas da sua casa
Bruno Vieira Feijó (redacao.vocesa@abril.com.br) 10/10/2009
Crédito: Rubens LPCriar uma planilha de controle para as contas domésticas, como se fosse um balanço patrimonial de empresa, pode ser o primeiro passo para descobrir a fotografia exata da sua situação econômico-financeira. O objetivo é simples: identifi car de onde vem e para onde vai o dinheiro, fazendo uma comparação entre o patrimônio acumulado e as dívidas que precisam ser honradas durante um determinado tempo — no caso das empresas, esse período é, normalmente, de um ano. É claro que as companhias lançam mão de diversos artifícios mais detalhados do que aqueles que separamos aqui. Com a ajuda de especialistas, nos concentramos apenas nos tópicos que, de fato, interessam ao controle do orçamento familiar. Não é nada complicado. Um bom começo é pegar a sua última declaração de Imposto de Renda (IR) para estudar. "Nosso IR apurado anualmente perante o Fisco segue basicamente a mesma lógica do balanço corporativo. O governo quer conhecer nossa variação patrimonial para saber se devemos pagar imposto ou receber de volta valores retidos com antecedência", diz Nelson Beltrame, consultor-chefe da Data Custos, em São Paulo. Então, mãos à obra!
Planeje sua vida financeira
Assim como as empresas elaboram um plano de negócios, você também pode ter um plano para sua vida financeira, que inclui metas, projetos e crescimento para curto, médio e longo prazo. Para chegar a um objetivo, trace um plano com ponto de chegada (objetivo final), a rota (como chegar) e o meio (o mecanismo de realização do objetivo).
1 Considere todas as possibilidades de:
• Aumento de salário.
• Novos horizontes (treinamento, MBA, nova profissão ou aperfeiçoamento da atual, outro emprego, novo negócio).
• Produção (despesas dimensionadas) para melhoria.
• Ação na gestão de caixa (atuar na gestão dos investimentos de forma programada).
2 Para a construção do plano considere as analogias:
• Um solteiro é uma firma individual; o administrador pode projetar o crescimento fazendo planos, investindo tempo e recursos na formação e na carreira.
• Quem se casa é como uma empresa que vai se fundir (ou terá um sócio ativo, não um investidor) e vira uma limitada (Ltda.).
• Na prospecção de crescimento da empresa (da família), os filhos são um investimento de longo prazo, que vai até a maturidade deles (ou das filiais). A empresa está expandindo!
• Na Inglaterra, a sigla Dink’s (Double Income, no Kids) quer dizer que os dois trabalham e têm receitas, mas os custos estão controlados por não terem filhos.
Ativos
Aqui você coloca tudo o que gera receitas ou foi incorporado ao seu patrimônio. “A dica é listar os ativos por grau de liquidez, ou seja, a facilidade de recebê-los, do garantido aos mais complicados”, diz Ricardo Torres, professor de finanças da Brazilian Business School.
CONTAS A RECEBER
É a composição de todos os rendimentos obtidos por meio do trabalho — nas empresas são as vendas dos produtos; para você é salário mensal, 13o salário, adicional de férias.
INVESTIMENTOS FINANCEIROS
Entram as aplicações com liquidez diária (CDBs pós-fixados, fundos DI, renda fixa, ações e dividendos) que você pode sacar a qualquer momento. Adicione as aplicações com resgate em até um ano.
RECEBIMENTOS EXTRAORDINÁRIOS
“Some as receitas que você vai receber, mas não tem certeza do dia nem qual será exatamente o valor”, diz Nelson Beltrame, da Data Custos. Um empréstimo que você fez para o seu cunhado, uma herança, um seguro de alguma coisa, a restituição do IR e os bônus salariais. “Não faça dívidas esperando cobri-las com essas receitas sem antes recebê-las”, adverte Nelson, da Data Custos.
ATIVOS DE LONGO PRAZO
Aplicações com resgate superior a um ano, como títulos do governo, CDBs pré-fixados e previdência privada. “Não compensa fazer o resgate antecipado. É só para o seu controle e saber que eles estão colaborando para o acumulo de patrimônio”, diz Ricardo, da Brazilian Business School.
ATIVO PERMANENTE
Bens adquiridos, como imóveis, carros, obras de arte, eletroeletrônicos ou ativos de valor significativo e passíveis de mensurar. Aqui só entram bens quitados ou os valores das parcelas já pagas. Ao fazer isso, você pode descobrir que, em alguns casos, é interessante se desfazer de algum bem, principalmente do carro, que nunca gera receitas, a não ser que ele seja o seu meio essencial de trabalho.
Passivos
Reúna aqui todas as despesas e obrigações que exijam colocar a mão no bolso. “As despesas operacionais e extraordinárias precisam de maior vigilância, já que a tendência é que elas subam conforme for aumentando seu padrão de vida”, diz Nelson Beltrame, da Data Custos.
DESPESA OPERACIONAL
São os gastos fixos necessários para você se manter, como alimentação, telefone e energia. “Se os custos fixos estão altos, troque o salão de beleza, procure um posto mais barato, pesquise supermercados concorrentes”, diz José Alberto Bonassoli, da consultoria El-Shaddai.
EXIGÍVEL NO CURTO PRAZO
É o dinheiro que você tem de deixar separado para pagar prestações que vencem em até um ano. A empresa reserva dinheiro no caixa para o pagamento do 13o salário. Você também pode fazer isso considerando a parcela anual da casa própria, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), a renovação de seguros, as matrículas de cursos. “São coisas previsíveis. Guarde antes para pagar tudo à vista”, diz Ricardo Torres, da Brazilian Business School.
RESERVA DE CAPITAL
Eventualidades sempre acontecem, mas não se pode prever quando — um carro enguiçado que foi para a oficina ou a perda do emprego. “Recomenda-se sempre ter guardado o equivalente a quatro salários para emergências”, diz o contador José Alberto Bonassoli.
DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS
Tudo o que dá para apertar o cinto se eventualmente precisar. Roupas, TV por assinatura, livros, passeios e viagens a lazer (lembre-se que uma ida ao shopping no fim de semana inclui o estacionamento). Podemos somar aqui coisas mínimas que podem ser cortadas e muitas vezes esquecemos de contabilizar: o cafezinho, por exemplo.
PASSIVO DE LONGO PRAZO
Inclui hipotecas, empréstimos bancários, financiamentos e outros valores a pagar com data de vencimento superior a um ano. “Serve para você comparar e se perguntar: ‘O que está sobrando daria para adiantar alguns pagamentos?’. É preciso ter certa folga financeira para viver tranquilo”, diz José Alberto Bonassoli.
Demonstrativo de resultados
Fazendo algumas comparações entre ativo e passivo, você descobre se está no azul (lucro) ou no vermelho (prejuízo). De preferência, retire da comparação ativos de longo prazo e permanente e o passivo de longo prazo, para expressar de forma mais fiel quanto representa sua disponibilidade de capital para arcar com dívidas assumidas em até um ano. O ativo permanente serve para expressar a relação entre seus bens (veículos e imóveis) perante o patrimônio total. A comparação entre os indicadores e entre datas diferentes, como, por exemplo, o início e o término de um trimestre, apresenta a sua variação patrimonial.
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