quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Administre sua casa como uma empresa

Os mesmos princípios usados na administração de uma companhia podem ser usados para gerenciar as contas da sua casa

Bruno Vieira Feijó (redacao.vocesa@abril.com.br) 10/10/2009

Crédito: Rubens LPCriar uma planilha de controle para as contas domésticas, como se fosse um balanço patrimonial de empresa, pode ser o primeiro passo para descobrir a fotografia exata da sua situação econômico-financeira. O objetivo é simples: identifi car de onde vem e para onde vai o dinheiro, fazendo uma comparação entre o patrimônio acumulado e as dívidas que precisam ser honradas durante um determinado tempo — no caso das empresas, esse período é, normalmente, de um ano. É claro que as companhias lançam mão de diversos artifícios mais detalhados do que aqueles que separamos aqui. Com a ajuda de especialistas, nos concentramos apenas nos tópicos que, de fato, interessam ao controle do orçamento familiar. Não é nada complicado. Um bom começo é pegar a sua última declaração de Imposto de Renda (IR) para estudar. "Nosso IR apurado anualmente perante o Fisco segue basicamente a mesma lógica do balanço corporativo. O governo quer conhecer nossa variação patrimonial para saber se devemos pagar imposto ou receber de volta valores retidos com antecedência", diz Nelson Beltrame, consultor-chefe da Data Custos, em São Paulo. Então, mãos à obra!

Planeje sua vida financeira

Assim como as empresas elaboram um plano de negócios, você também pode ter um plano para sua vida financeira, que inclui metas, projetos e crescimento para curto, médio e longo prazo. Para chegar a um objetivo, trace um plano com ponto de chegada (objetivo final), a rota (como chegar) e o meio (o mecanismo de realização do objetivo).


1 Considere todas as possibilidades de:

• Aumento de salário.

• Novos horizontes (treinamento, MBA, nova profissão ou aperfeiçoamento da atual, outro emprego, novo negócio).

• Produção (despesas dimensionadas) para melhoria.

• Ação na gestão de caixa (atuar na gestão dos investimentos de forma programada).



2 Para a construção do plano considere as analogias:

• Um solteiro é uma firma individual; o administrador pode projetar o crescimento fazendo planos, investindo tempo e recursos na formação e na carreira.

• Quem se casa é como uma empresa que vai se fundir (ou terá um sócio ativo, não um investidor) e vira uma limitada (Ltda.).

• Na prospecção de crescimento da empresa (da família), os filhos são um investimento de longo prazo, que vai até a maturidade deles (ou das filiais). A empresa está expandindo!

• Na Inglaterra, a sigla Dink’s (Double Income, no Kids) quer dizer que os dois trabalham e têm receitas, mas os custos estão controlados por não terem filhos.

Ativos

Aqui você coloca tudo o que gera receitas ou foi incorporado ao seu patrimônio. “A dica é listar os ativos por grau de liquidez, ou seja, a facilidade de recebê-los, do garantido aos mais complicados”, diz Ricardo Torres, professor de finanças da Brazilian Business School.


CONTAS A RECEBER

É a composição de todos os rendimentos obtidos por meio do trabalho — nas empresas são as vendas dos produtos; para você é salário mensal, 13o salário, adicional de férias.


INVESTIMENTOS FINANCEIROS

Entram as aplicações com liquidez diária (CDBs pós-fixados, fundos DI, renda fixa, ações e dividendos) que você pode sacar a qualquer momento. Adicione as aplicações com resgate em até um ano.


RECEBIMENTOS EXTRAORDINÁRIOS

“Some as receitas que você vai receber, mas não tem certeza do dia nem qual será exatamente o valor”, diz Nelson Beltrame, da Data Custos. Um empréstimo que você fez para o seu cunhado, uma herança, um seguro de alguma coisa, a restituição do IR e os bônus salariais. “Não faça dívidas esperando cobri-las com essas receitas sem antes recebê-las”, adverte Nelson, da Data Custos.


ATIVOS DE LONGO PRAZO

Aplicações com resgate superior a um ano, como títulos do governo, CDBs pré-fixados e previdência privada. “Não compensa fazer o resgate antecipado. É só para o seu controle e saber que eles estão colaborando para o acumulo de patrimônio”, diz Ricardo, da Brazilian Business School.


ATIVO PERMANENTE

Bens adquiridos, como imóveis, carros, obras de arte, eletroeletrônicos ou ativos de valor significativo e passíveis de mensurar. Aqui só entram bens quitados ou os valores das parcelas já pagas. Ao fazer isso, você pode descobrir que, em alguns casos, é interessante se desfazer de algum bem, principalmente do carro, que nunca gera receitas, a não ser que ele seja o seu meio essencial de trabalho.


Passivos

Reúna aqui todas as despesas e obrigações que exijam colocar a mão no bolso. “As despesas operacionais e extraordinárias precisam de maior vigilância, já que a tendência é que elas subam conforme for aumentando seu padrão de vida”, diz Nelson Beltrame, da Data Custos.


DESPESA OPERACIONAL

São os gastos fixos necessários para você se manter, como alimentação, telefone e energia. “Se os custos fixos estão altos, troque o salão de beleza, procure um posto mais barato, pesquise supermercados concorrentes”, diz José Alberto Bonassoli, da consultoria El-Shaddai.


EXIGÍVEL NO CURTO PRAZO

É o dinheiro que você tem de deixar separado para pagar prestações que vencem em até um ano. A empresa reserva dinheiro no caixa para o pagamento do 13o salário. Você também pode fazer isso considerando a parcela anual da casa própria, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), a renovação de seguros, as matrículas de cursos. “São coisas previsíveis. Guarde antes para pagar tudo à vista”, diz Ricardo Torres, da Brazilian Business School.


RESERVA DE CAPITAL

Eventualidades sempre acontecem, mas não se pode prever quando — um carro enguiçado que foi para a oficina ou a perda do emprego. “Recomenda-se sempre ter guardado o equivalente a quatro salários para emergências”, diz o contador José Alberto Bonassoli.


DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS

Tudo o que dá para apertar o cinto se eventualmente precisar. Roupas, TV por assinatura, livros, passeios e viagens a lazer (lembre-se que uma ida ao shopping no fim de semana inclui o estacionamento). Podemos somar aqui coisas mínimas que podem ser cortadas e muitas vezes esquecemos de contabilizar: o cafezinho, por exemplo.


PASSIVO DE LONGO PRAZO

Inclui hipotecas, empréstimos bancários, financiamentos e outros valores a pagar com data de vencimento superior a um ano. “Serve para você comparar e se perguntar: ‘O que está sobrando daria para adiantar alguns pagamentos?’. É preciso ter certa folga financeira para viver tranquilo”, diz José Alberto Bonassoli.


Demonstrativo de resultados

Fazendo algumas comparações entre ativo e passivo, você descobre se está no azul (lucro) ou no vermelho (prejuízo). De preferência, retire da comparação ativos de longo prazo e permanente e o passivo de longo prazo, para expressar de forma mais fiel quanto representa sua disponibilidade de capital para arcar com dívidas assumidas em até um ano. O ativo permanente serve para expressar a relação entre seus bens (veículos e imóveis) perante o patrimônio total. A comparação entre os indicadores e entre datas diferentes, como, por exemplo, o início e o término de um trimestre, apresenta a sua variação patrimonial.

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